SAÚDE NO TRABALHO PREOCUPA

Afastamento recorde por ansiedade, depressão e Sindrome de Burnout – o que está acontecendo nas empresas?

A sociedade contemporânea, marcada por um ritmo acelerado e mudanças profundas nas percepções de objetivos e propósitos, tem presenciado um aumento de problemas mentais no ambiente corporativo, como ansiedade, depressão e Sindrome de Burnout. Esse cenário impõe desafios às empresas, exigindo uma atenção redobrada aos fatores que influenciam a saúde mental dos colaboradores.

O fato é que o Brasil vive uma grave crise de saúde mental, que tem gerado consequências diretas tanto para trabalhadores quanto para empresas. Dados do Ministério da Previdência Social revelam que, em 2024, o país registrou quase meio milhão de afastamentos por questões de saúde mental, o maior número dos últimos dez anos. Foram 472.328 licenças médicas concedidas, o que representa um aumento de 68% em relação ao ano anterior.

“Essas números alarmantes são reflexos de várias gerações diferentes no mercado de trabalho, a situação e condições de trabalhos atuais, além dos reflexos deixados pela pandemia, que exacerbaram problemas como ansiedade, depressão e Burnout. A crise levou o governo federal a adotar medidas mais rigorosas, incluindo a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que agora obriga as empresas a fiscalizarem o ambiente de trabalho e pode resultar em multas caso sejam identificados riscos psicossociais, como assédio moral ou metas excessivas”, explica Vicente Beraldi Freitas, médico especializado em psiquiatria da Moema Medicina do Trabalho..

A crise de saúde mental afeta principalmente mulheres, que representam 64% dos afastados, muitas vezes sobrecarregadas por responsabilidades familiares e pressões econômicas. A situação também é agravada pela escassez de diagnósticos de condições como burnout, que não figura entre os afastamentos mais registrados. Além dos impactos individuais, a crise afeta a economia. A OMS estima que transtornos mentais custam US$ 1 trilhão anuais, devido à perda de produtividade. Empresas que não se adaptam ao novo cenário enfrentam não só prejuízos financeiros, mas também uma maior rotatividade de funcionários e queda no desempenho.

“Nos últimos anos, a revolução tecnológica e a crescente digitalização foram intensificadas pela pandemia, além disso se tem o aumento da pressão e das metas dentro das empresas, com isso as frustrações são mais evidentes”, detalha Vicente Beraldi Freitas. Que complementa: “Vivemos em uma realidade onde as pessoas enfrentam dificuldades, como conviver com padrões irreais nas redes sociais e altos anseios, tornando-as mais sensíveis a gatilhos para problemas psiquiátricos.”

A mudança no perfil dos problemas de saúde dos trabalhadores é notável. Tatiana Gonçalves, sócia da Moema Medicina do Trabalho, observa que “há 20 anos, os afastamentos eram majoritariamente por acidentes de trabalho e problemas ortopédicos. Hoje, vemos um crescimento exponencial de pacientes com problemas psiquiátricos.”

Principais doenças e suas causas

Os transtornos de ansiedade, a depressão e a síndrome de Burnout são doenças psiquiátricas marcadas por uma preocupação constante e excessiva com a possibilidade de eventos negativos.

Contudo, existem diferenças entre elas:

  • Burnout: Uma condição caracterizada por exaustão extrema e sentimentos de frustração relacionados ao trabalho. Beraldi enfatiza a necessidade de diagnósticos precisos e acompanhamento por profissionais especializados. A atualização do Ministério da Saúde, que incluiu o Burnout na lista de doenças relacionadas ao trabalho, reforça a importância do reconhecimento dos fatores psicossociais no ambiente corporativo.
  • Crise de ansiedade: Caracterizada por uma preocupação constante e excessiva, pode levar a sintomas físicos como falta de ar, sudorese e arritmia. “A ansiedade é uma patologia desencadeada por fatores internos ou externos, exacerbada pela pandemia e a crescente digitalização,” explica Vicente Beraldi.
  • Depressão: Uma doença crônica e recorrente que causa tristeza profunda e desesperança, afetando a capacidade funcional do indivíduo. É essencial procurar ajuda médica e diferenciar a tristeza patológica daquela transitória, provocada por eventos difíceis da vida.

Dentre as causas desses males estão vários fatores como estresse no trabalho e conflitos relacionados a competências, autonomia, relações com clientes, realização pessoal e falta de apoio social. Além de fatores organizacionais, causados por sobrecarga de trabalho, desalinhamento entre objetivos da empresa e valores pessoais, e isolamento social. Além disso, existem fatores pessoais, com relações familiares e amizades.

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