
Um “gigante econômico” menos poderoso do que parece.
O BRICS, bloco formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, expandiu-se em 2023, com a entrada de Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos. A ampliação do grupo aumentou sua relevância econômica e geopolítica, mas será que essa aliança realmente tem poder para desafiar o Ocidente? Apesar de sua importância, o BRICS ainda enfrenta grandes desafios que limitam sua influência global.
O Que é o BRICS?
O termo BRIC foi criado pelo economista Jim O’Neill, do banco Goldman Sachs, em 2001, para se referir a quatro economias emergentes com grande potencial de crescimento: Brasil, Rússia, Índia e China. Em 2010, a África do Sul foi adicionada ao grupo, transformando-o em BRICS.
Em 2023, cinco novos países foram incluídos no bloco: Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos. Com essa expansão, o BRICS passou a reunir algumas das maiores economias emergentes do mundo, representando cerca de 45% da população mundial e um PIB combinado de mais de US$ 30 trilhões.
A ideia do bloco sempre foi fortalecer a cooperação entre essas nações e criar uma alternativa econômica ao domínio do Ocidente. Mas será que o BRICS realmente tem poder para mudar a geopolítica global?
Por que o BRICS não é tão poderoso quanto parece?
Apesar do peso econômico e da recente expansão, o BRICS continua enfrentando problemas internos que dificultam sua consolidação como uma força dominante no mundo. Aqui estão os principais desafios:
- Diferenças políticas e interesses conflitantes
Os países do BRICS possuem sistemas políticos e estratégias econômicas muito diferentes, o que dificulta a tomada de decisões conjuntas:
China e Índia são rivais históricos e já tiveram conflitos militares na fronteira.
Rússia e China são regimes autoritários, enquanto Brasil, Índia e África do Sul são democracias.
Arábia Saudita e Irã são inimigos históricos no Oriente Médio, tornando difícil qualquer alinhamento estratégico entre eles.
Egito e Etiópia disputam recursos hídricos do Rio Nilo, um ponto de tensão na África.
Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita têm relações econômicas próximas, mas também rivalizam pelo protagonismo regional no Golfo Pérsico.
Com tantas diferenças e disputas entre os próprios membros, o BRICS não consegue agir como um bloco coeso, ao contrário de alianças como a União Europeia ou a OTAN.
- A China domina o grupo
A China é a maior economia do BRICS e tem uma influência desproporcional sobre os demais membros. Seu PIB é maior do que o de todos os outros países do bloco juntos, e sua agenda econômica nem sempre beneficia os parceiros do grupo.
A expansão do BRICS para incluir novos países reflete, em grande parte, os interesses estratégicos da China e da Rússia de fortalecer alianças contra o Ocidente. No entanto, muitos membros, como o Brasil, Índia e Arábia Saudita, ainda mantêm relações econômicas mais próximas dos Estados Unidos e da Europa.
- Falta de integração econômica real
Diferente da União Europeia, o BRICS não possui:
Uma moeda comum.
Um mercado integrado.
Tarifas comerciais reduzidas entre os membros.
Na prática, os países do BRICS continuam negociando mais com os Estados Unidos e a Europa do que entre si. Por exemplo:
O Brasil exporta mais para os EUA do que para a Rússia ou a China.
A Arábia Saudita vende petróleo para todo o mundo, mas suas maiores transações ainda são com o Ocidente.
O Irã, sob sanções econômicas, tem poucas opções de comércio internacional, o que pode limitar sua contribuição ao bloco.
Sem um mercado integrado e sem uma moeda alternativa ao dólar, o BRICS não consegue se tornar uma força econômica independente.
- Problemas econômicos internos
Cada país do BRICS enfrenta desafios econômicos sérios que reduzem sua influência global:
Brasil: Crescimento lento, corrupção e baixa competitividade industrial.
Rússia: Dependência de petróleo, sanções econômicas e isolamento político.
Índia: Desigualdade extrema e infraestrutura deficiente.
China: Desaceleração econômica e problemas no setor imobiliário.
África do Sul: Desemprego alto e instabilidade política.
Irã: Sanções econômicas severas e isolamento internacional.
Arábia Saudita: Economia fortemente dependente do petróleo, que pode sofrer impactos no futuro.
Egito: Crise inflacionária e dívida pública elevada.
Etiópia: Instabilidade política e conflitos internos.
Emirados Árabes Unidos: Apesar da riqueza, seu impacto econômico global ainda é limitado.
Com tantos desafios internos, fica difícil para o BRICS se posicionar como uma potência global unificada.
- Falta de instituições fortes
O BRICS criou algumas instituições financeiras, como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), mas ele não consegue competir com o FMI ou o Banco Mundial, ainda dominados pelo Ocidente.
Além disso, o bloco não tem um sistema de governança estruturado, funcionando mais como um fórum diplomático do que como uma aliança econômica ou militar real.
Conclusão: O BRICS pode rivalizar com o Ocidente?
Apesar de sua recente expansão e da importância econômica dos seus membros, o BRICS não consegue atuar como um bloco coeso. As profundas diferenças políticas, econômicas e estratégicas entre seus países impedem que o grupo se torne uma potência global verdadeiramente unificada.
Embora China e Rússia tentem usar o BRICS como uma plataforma para desafiar os EUA e a Europa, a falta de integração real, os interesses conflitantes e a dependência econômica do Ocidente fazem com que o bloco tenha menos poder do que parece.
O BRICS pode continuar crescendo e atraindo novos membros, mas ainda está longe de substituir a influência do Ocidente na economia global.