A MAIOR TORCIDA É A DOS SEM TORCIDA


Nem todo brasileiro é apaixonado por futebol. confira a nova cara dos torcedores dos clubes brasileiros.

O Brasil sempre foi conhecido como o “país do futebol”. Os cinco títulos mundiais da Seleção, os craques lendários e a paixão que lotava estádios alimentaram por décadas a ideia de que todo brasileiro torce para algum time. Mas os tempos mudaram. A realidade atual mostra que uma parcela significativa da população brasileira não torce por time algum, e muitos nem sequer gostam de futebol. Outros torcem exclusivamente para clubes estrangeiros. Em paralelo, o futebol passou a disputar espaço com os eSports, as redes sociais e outros esportes que ganharam visibilidade.

📉 Brasileiros sem time: quase um quarto da população
Segundo a pesquisa Datafolha de julho de 2023, 22% dos brasileiros afirmaram não torcer para nenhum time de futebol. Esse número já chegou a ser inferior a 10% nas décadas anteriores, o que mostra um crescimento significativo do desinteresse nas últimas gerações.

Entre os jovens de 16 a 24 anos, o percentual de pessoas que não torcem por nenhum time chega a 27%, segundo dados do Ipec (2022). Esse índice é ainda mais acentuado nas classes A e B, e entre os moradores das regiões Norte e Centro-Oeste do país.

O que motiva esse afastamento? Muitos citam a corrupção no futebol, o baixo nível técnico dos campeonatos nacionais, os escândalos envolvendo cartolas, e o distanciamento entre clubes e suas comunidades.

🌍 Fãs de clubes europeus: o glamour além-mar
Com o avanço das transmissões por streaming e redes sociais, torcedores brasileiros passaram a acompanhar mais intensamente o futebol europeu. De acordo com o Ipec, 12% dos torcedores brasileiros já declaram preferência por times estrangeiros, especialmente entre os jovens.

Times como Real Madrid, Barcelona, Manchester City, PSG e Bayern de Munique lideram as preferências. O Real Madrid, por exemplo, já figura como o 10º clube mais citado espontaneamente por torcedores no Brasil, mesmo nunca tendo pisado em solo brasileiro para jogar.

Com elencos estrelados, jogos transmitidos com qualidade cinematográfica e marketing de alto impacto, os clubes europeus transformaram-se em marcas globais com torcedores locais, mesmo a milhares de quilômetros de distância.

🎮 Os games e a fuga dos gramados
Outro fator crucial para o desinteresse pelo futebol está na ascensão dos jogos eletrônicos e eSports. Uma pesquisa da PwC Brasil revelou que mais de 75% dos jovens brasileiros entre 16 e 29 anos consomem conteúdo gamer com frequência, seja jogando ou assistindo streamings em plataformas como Twitch e YouTube.

Além disso, o Brasil já tem mais de 101 milhões de gamers, segundo levantamento da Pesquisa Game Brasil (PGB) de 2024 — o que representa quase metade da população do país. Para muitos jovens, o tempo dedicado aos jogos eletrônicos substituiu o que, em décadas anteriores, era usado para acompanhar campeonatos ou ir ao estádio.

Jogos como FIFA, Fortnite, League of Legends e Counter-Strike criaram comunidades massivas. Um adolescente pode passar horas assistindo a um torneio de eSports com o mesmo entusiasmo com que seus pais vibravam em frente à TV com um jogo do Campeonato Brasileiro.

🏀🏐🏄‍♂ Outros esportes ganham espaço
Além dos games, esportes alternativos também conquistaram a atenção do público. O sucesso olímpico de atletas como Rebeca Andrade, Rayssa Leal, Ítalo Ferreira e Alison dos Santos ajudou a consolidar o interesse nacional por modalidades como ginástica, skate, surfe e atletismo.

O vôlei, por sua vez, se mantém como segundo esporte mais popular do país. De acordo com a Cufa Esporte, 31% dos brasileiros acompanham o vôlei com frequência, e o basquete (impulsionado pela NBA) já é o terceiro esporte favorito, com 12% de preferência nacional, superando até mesmo algumas ligas regionais de futebol.

👩‍🦰 As mulheres e o futebol: um novo protagonismo
Se por um lado parte da população se afastou do futebol, as mulheres se aproximaram como nunca. Uma pesquisa da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) divulgada em 2023 revelou que 33% da audiência dos jogos da Seleção Brasileira é composta por mulheres — um salto significativo se comparado com os anos 1990.

Nas redes sociais, influenciadoras digitais esportivas têm ganhado destaque comentando futebol com autoridade e bom humor. Clubes como Corinthians, Flamengo e Palmeiras criaram departamentos específicos de comunicação com torcedoras, e o futebol feminino passou a ser tratado com mais seriedade.

O crescimento da audiência dos jogos da Série A1 do Brasileirão Feminino ultrapassou 120% em 2023, segundo dados da CBF, o que mostra que há um novo público abraçando o futebol — e que ele não é mais exclusivamente masculino.

📊 O Brasil já não é um só em sua paixão esportiva
O futebol ainda é um elemento forte da cultura nacional. Mas ele já não é onipresente. Hoje, mais de 47 milhões de brasileiros não torcem para time algum. Milhões preferem torcer para times estrangeiros, outros tantos migraram para os eSports, e muitos encontraram no vôlei, skate, basquete ou surfe uma nova paixão.

Ao mesmo tempo, as mulheres conquistaram espaços antes negados, mostrando que o futebol está em transformação. O Brasil do século XXI tem múltiplas paixões — e o futebol, embora ainda vibrante, agora compartilha o coração do povo com muitos outros interesses.

Essa nova configuração é mais plural, mais diversa e mais conectada ao mundo atual. E isso também é futebol — ou melhor, isso também é Brasil.

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