Não faltou cartão postal na apresentação da sessentona Madonna, realizada no último final de semana no Rio de Janeiro. Um espetáculo apoteótico, na terra da Apoteose, nas areias da Praia de Copacabana, que certamente agradou até os olhares da estátua do Cristo Redentor. Será?!

Até se deixa passar a narrativa de que o espetáculo trouxe um suposto retorno financeiro à economia da cidade, segundo afirmações de autoridades do Governo do Estado (para especialistas, uma falácia que na verdade usa os números arrecadados pelas grandes empresas, muitas delas multinacionais, para fazer de conta que essa receita retornará à população), ou que contou com efeitos especiais apreciáveis que encantaram o público, ou ainda que espetáculos desse porte atraem os olhares do mundo à Cidade Maravilhosa, mas dizer que agradou àquele Senhor que fica no alto do Corcovado, sei não…

E não é pela suspeita do uso de playback, algo que, se comprovado, é uma tremenda falta de respeito ao público, ou pelo caos causado aos moradores do bairro a cada evento, tampouco pelo transtorno para aqueles que pagam um dos IPTUs mais caros do planeta, nem mesmo pelo financiamento público direto de 20 milhões de reais, enquanto hospitais e escolas carecem de verba pública, mas pela exagerada, vulgar e agressiva exploração sexual do espetáculo, enfiada pela garganta de quem teve a péssima ideia de assistir de perto ou de ligar a televisão para acompanhar o início com sua família.

Ora, Madonna já passou dos 65 anos de experiência, é uma senhora dona de uma fortuna relevante. Não deveria mais se sujeitar a essa lastimável competição sexual desregrada com “as novinhas”, para saber qual artista pop consegue ser mais vulgar, sobretudo por que sua posição pode ser usada como parâmetro para jovens e adolescentes.

Ah, você tem dúvidas se esse tipo de conteúdo é inapropriado? É fácil chegar a uma conclusão. Se o que deseja apreciar em família te obriga a retirar as crianças da sala, certamente aí está um mau sinal. E Madonna bateu mais esse recorde, a de realocação de guris numa só noite de sábado.

Coreografias que simularam masturbação e sexo, além de indecente contato corporal entre a artista e seus dançarinos, fizeram parte do circo de horrores apresentado em Copacabana. Um show digno de uma nightclub – aquelas boates associadas à prostituição em que as dançarinas ficam em palcos se exibindo para os espectadores. Exagero? Então responda: qual a diferença?

Para piorar, as lamentáveis cenas foram exibidas em rede nacional na TV aberta pela maior emissora do país, que digamos de passagem, possui concessão pública, o que configura a institucionalização da pornografia.

O que poderia ser considerado positivo, o apelo popular, de fato acaba sendo outro ponto lastimável. A presença de 1,6 milhão de pessoas que saem de casa para assistir algo que sabidamente possui conteúdo inapropriado, só demonstra como a sociedade está adoecida e decadente .

Há algum tempo, numa época não santificada, mas simplesmente menos imoral, o cidadão poderia ser conduzido à delegacia por gestos obscenos, por se tratar de um claro desrespeito às famílias e à maioria dos cidadãos. Hoje, boa parte da sociedade bate palmas eufórica para um atentado ao pudor cometido em cima do gigantesco palco, exibido em rede nacional e ainda patrocinado pelo poder público. Que se fique registrado: a maioria da população brasileira não compactua com isso e certamente o principal cartão postal do país não deu like.

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