Justiça decreta despejo por dívida quase milionária com o Grupo Severiano Ribeiro. Frequentadores fazem abaixo assinado.

O cinema Estação Net Rio, em Botafogo, deverá encerrar suas atividades. A Justiça do Rio de Janeiro, por meio da juíza Elisabete Franco Longobardi, da 27ª Vara Cível, deu ganho de causa ao Grupo Severiano Ribeiro, motivada por falta de pagamento de aluguéis atrasados do espaço em que o cinema funciona, que buscou as vias legais após deixar de receber cerca de R$ 860 mil de alugueis atrasados.

A magistrada definiu que o Grupo Estação deixe o prédio em 15 dias e que pagasse a quantia referente ao aluguel e outras despesas: “A alegação de dificuldades financeiras em razão da pandemia causada pela Covid-19 não é motivo suficiente para justificar o inadimplemento dos alugueres”, explicitou.

PANDEMIA É ALEGAÇÃO DOS DOIS LADOS

Em nota, o Grupo Severiano Ribeiro afirmou que o Grupo Estação não paga os aluguéis desde março de 2020, quando a pandemia do novo coronavírus começou. “O Grupo Estação apresenta problemas em cumprir seus compromissos com o GSR desde 2014, quando em apoio ao cinema e a sua sobrevivência, o GSR abriu mão de um valor significativo de aluguel, o que mostra a sua boa vontade, e que sempre agiu de boa fé e a favor do cinema, respeitando seus parceiros e locatários. Infelizmente o momento nos obriga a agir de forma diferente”, pontuou.

Nas redes sociais, o Grupo Estação disse que tentou negociar os valores com o Grupo Severiano Ribeiro e renovar o aluguel. Além disso, afirmou que “a intenção do Grupo Severiano Ribeiro de, aproveitando a crise provocada pela pandemia, fechar o Estação Net Rio, demolir o cinema e construir em seu lugar mais um prédio residencial”.

ABAIXO ASSINADO

O Grupo Estação criou um abaixo-assinado online para tentar mobilizar o apoio dos frequentadores do cinema tradicional. O objetivo do abaixo-assinado, que se chama #FICAESTACAONETRIO, é de tentar mudar os rumos das negociações. “Pedimos que o Grupo Severiano Ribeiro reveja seu posicionamento, contrário a cultura da cidade, e reverta esta situação. Não podemos deixar a especulação imobiliária destruir o patrimônio cultural da cidade!”, pediu o grupo, que continuou:

“Pedimos também que o poder público se posicione do lado da cultura, da população e do patrimônio da cidade nesta batalha e não permita que mais um bastião histórico-cultural da cidade seja destruído”.

OUTROS CINEMAS DESAPARECERAM

Estudos apontam que, nos anos 1950, o total de cinemas de rua eram aproximadamente 170 na cidade. Hoje, há apenas sete.

Desde meados do século passado, o número de cinemas na cidade caiu ano após ano, e de maneira mais acentuada durante a pandemia, quando, segundo o Sindicato de Exibidores do Estado do Rio, o município perdeu pelo menos oito cinemas de rua, dos quais quatro definitivamente.

Um deles foi o Cine Roxy, em Copacabana, um dos mais tradicionais do Rio. Administrado pelo Grupo Severiano Ribeiro, da rede Kinoplex, ele foi fechado definitivamente em junho deste ano, depois de ter sido incluído pela prefeitura no Cadastro de Negócios Tradicionais e Notáveis da cidade — o que permite que a instalação troque de dono, mas não de ramo. O Grupo Severiano Ribeiro argumentou que o Roxy já estava se tornando financeiramente insustentável, mas ainda não esclareceu qual será o destino do prédio do cine, que tem algumas de suas características arquitetônicas tombadas pelo patrimônio histórico da cidade desde 2003.

Um desfecho semelhante se desenha para o Estação Net Rio, um dos remanescentes do circuito de exibição de Botafogo. Com seus três cines, o bairro resiste como o último esteio dos cinemas de rua da cidade.

Se a situação é complicada no Brasil e no mundo, cada vez mais habituado a consumir o cinema pelas plataformas de streaming, ela é ainda mais difícil para os cinemas de rua cariocas. Diferentemente de São Paulo, geridos em grande parte pelos próprios donos dos imóveis onde eles estão situados, os cinemas de rua do Rio de Janeiro, sobretudo os mais famosos, ficam em prédios alugados, o que eleva o custo do negócio. (Fonte: sites O Dia e Extra).

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