Sexo no Cativeiro de Esther Perel fala sobre quanto a intimidade é nociva aos relacionamentos. Pensemos na lei da oferta e da procura: quando a oferta é infinita, o seu valor cai. A autora afirma que o erotismo precisa de uma distância, um espaço entre o eu e o outro. Mas lembremos que sexo e afeto se colocam em esfera e importância distintas e nos puxam para lados contrários.

Sem perceber casais sacrificaram a paixão em nome da estabilidade. Contribui para isso as próprias dinâmicas de um relacionamento que não colaboram muito para o sexo. Aquilo que é fonte de conflito fora da cama, poder, controle, vulnerabilidade, é desejável se experimentada através do corpo e erotizado. Como separar algo que está tão misturado?? Mais. Como esperar que o nosso relacionamento nos proteja dos perigos do mundo se o amor é intrinsicamente instável? Criamos artifícios para isso: colocamos limites, impomos regras e criamos previssibilidades. A mesma base do conhecido que traz a paz doméstica, orquestra o tédio. E muito disso se dá pelo fato de que gostamos de neutralizar a complexidade do outro em nome da nossa segurança. Estreitamos nosso parceiro, ignoramos partes essenciais para colocarmos ordem na casa. Também nos reduzimos, abrimos mão de blocos da nossa personalidade em nome do amor. Quando a intimidade é sinônimo de fusão, não é a falta mas o excesso da proximidade que impede o desejo. Quando dois vira um, não há ninguém com quem se ligar e onde não se tem nada para esconder, não há nada a procurar: esse é o lema do desejo, que está mais mais interessado em onde pode estar do que onde esteve. A paixão está intimamente ligada ao nível de incerteza que você está disposto a tolerar. Assim, tolerar a própria individualidade é fundamental para manter o desejo do lado de dentro da relação. Não esqueãmos que o fogo também precisa de oxigênio para se alimentar.

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