Jhonathan Muniz Pereira, de 23 anos, estava na garupa da moto dirigida pelo mototaxista Edvaldo Viana, de 41 anos. Ele trabalhava com reciclagem e não tinha envolvimento com o tráfico, segundo familiares. Jhonathan Muniz Pereira, de 23 anos, morreu na Cidade de Deus na última terça-feira (18)
Reprodução/Arquivo Pessoal
A família de Jhonathan Muniz Pereira, de 23 anos, 2° morto por PMs na Cidade de Deus na última terça-feira (18), só ficou sabendo do que aconteceu 24 horas depois e pelas redes sociais.
Jhonathan, que estava na garupa da moto dirigida pelo mototaxista Edvaldo Viana, de 41 anos, também morto pelos policiais, trabalhava com reciclagem e não tinha envolvimento com o tráfico de drogas, segundo parentes e amigos.
“Não tinha envolvimento com nada, passava o dia inteiro com um carrinho de lixo para cima e pra baixo”, disse Léu Oliveira, coordenador do projeto social Cine Rock.
Na manhã desta quinta-feira (20), a mãe de Jhonathan foi fazer a liberação do corpo no Instituto Médico Legal (IML).
“Ele não andava armado. Ele tem casa, ele tem mãe, ele tem família. Ele não andava armado. Eu já andei com ele. Eu jamais andaria do lado de uma pessoa que anda assim”, afirmou Beatriz Costa, amiga da família. “Erraram, gente, erraram”, disse uma amiga do rapaz, emocionada.
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Em 2018, Jhonatan chegou a ser preso pelo roubo de um celular. O rapaz foi condenado e cumpriu a pena.
Ação da PM na entrada da CDD
Jhonatan e Edvaldo foram mortos na última terça-feira (18), durante uma abordagem policial em um viaduto que fica no acesso à Linha Amarela e que também serve como entrada para a Cidade de Deus.
Segundo testemunhas, eles foram baleados depois que Edvaldo fez uma “bandalha” (manobra ilegal). Eles foram abordados pelos PMs e, mesmo parando a moto, Edvaldo e Jhonatan foram baleados.
Logo após as mortes, vídeos associados ao caso foram compartilhados em redes sociais. Em um deles, os PMs são gravados arrastando um dos corpos. Não havia outras pessoas perto. Os moradores acusam os policiais de modificarem a cena do crime.
A família diz que o corpo que aparece sendo arrastado pelos policiais e levado até a viatura é o de Jhonatan.
Apesar das imagens registradas pelos celulares de moradores, a Polícia Militar preferiu classificar a atitude dos PMs como tentativa de socorro.
Laudo aponta tiro no abdômen
O laudo do IML aponta que Jhonatan foi morto com um tiro no abdômen. Os PMs contaram na delegacia que atiraram depois que o motorista da moto sacou uma arma da cintura. Eles fizeram dois disparos, que atingiram o mototaxista e o garupa.
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Em nenhum momento os policiais explicaram por que atiraram em Jhonatan. A arma que os PMs dizem ter visto também não foi encontrada.
PMs dizem que arma foi furtada
Os PMs disseram que o mototaxista Edvaldo Viana estaria armado no momento que foi abordado. Além disso, os policiais envolvidos na ação também relataram na delegacia que a arma teria sido furtada por “cracudos” – termo pejorativo que se refere a dependentes químicos de crack. Essa seria a explicação para que a arma não fosse apreendida.
Na versão dos policiais, que são lotados no 18º Batalhão (Jacarepaguá), por volta das 18h50 de terça a equipe patrulhava a área quando viu duas pessoas em uma moto saindo de um local conhecido como “13” ou “Tijolinho”.
Na sequência, eles afirmaram que o piloto da moto sacou uma arma com a intenção de atirar nos PMs. Os policiais disseram que revidaram e, depois, foram alvo de disparos de criminosos do Tijolinho. Segundo o relato, os PMs se protegeram e pediram reforços.
Depois que a situação acalmou, os PMs contaram ter encontrado os feridos “cercados de pessoas viciadas em crack (cracudos)”, e que a arma que supostamente estava com Edvaldo foi levada.
O que dizem as polícias
A Polícia Militar determinou que a Corregedoria da PM apure a ação. E disse que os policiais do 18° BPM (Jacarepaguá) foram ouvidos na Delegacia de Homicídios da Capital. Um fuzil da equipe foi recolhido para perícia.
A nota diz ainda que, depois que os dois homens foram baleados pelos policiais, moradores tentaram obstruir as vias em protesto. E que equipes do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq) atuaram junto às equipes do 18° BPM para estabilizar a região.
De acordo com a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), as investigações estão em andamento. Os policiais militares prestaram depoimento e um fuzil foi apreendido e encaminhado para confronto balístico. Diligências seguem para apurar as circunstâncias do caso.