Superintendentes da própria CBV eram donos das empresas contratadas pela confederação, mas não prestaram serviços. Auditoria aponta ainda que as empresas sequer tinham funcionários. Ary Graça Filho, ex-presidente da CBV
Reprodução/TV Globo
A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) fez contratos fictícios com empresas que não prestaram nenhum serviço para desviar recursos do patrocínio do Banco do Brasil, segundo denúncia do Ministério Público.
Nesta quinta-feira (20), a Operação Desmico foi realizada pelo MP e pela Polícia Civil. Entre os alvos estão dois escritórios onde estavam registradas mais de mil empresas-fantasmas.
Os contratos foram firmados por Ary Graça, então presidente da CBV, e por empresas que tinham à frente superintendentes da CBV como Fábio André Dias Azevedo e Marcos Antonio Pina Barbosa, como a S4G e a SMP.
Graça diz que foi surpreendido e nega. A CBV afirma que colabora com as investigações (veja as notas ao fim da reportagem).
As empresas, ainda segundo a denúncia, eram recém criadas, não tinham estrutura de pessoal e tinham sedes fictícias. Por isso, são consideradas “empresas-fantasmas”.
Essas firmas eram registradas no município de Saquarema, na Região dos Lagos, e receberam benefícios fiscais em decretos do então Antonio Peres Alves. Os procuradores afirmam que o município de Saquarema é um “paraíso fiscal”.
“Os ‘contratos’ celebrados não passaram de desvio de verbas revertidas quase que em sua totalidade em proveito dos sócios integrantes do esquema”, afirmam os procuradores.
Um auditório da Controladoria Geral da União (CGU) aponta para a não prestação do serviço, superfaturamento e pagamentos indevidos:
falta de provas de prestação de serviço
empresa não tem estrutura física
emissão de notas fiscais sequenciais
contador da empresa é funcionário da CBV
ausência de funcionários
A 10ª Vara de Saquarema expediu 14 mandados de busca e apreensão. A Justiça determinou também o bloqueio de R$ 52 milhões dos envolvidos.
Alguns dos alvos de buscas são:
Ary Graça Filho, ex-presidente da CBV e presidente da Federação Internacional de Voleibol (FIVB);
A sede da CBV, na capital fluminense;
A Cidade do Vôlei, em Saquarema;
Antonio Peres Alves, ex-prefeito de Saquarema;
Manoela Peres, atual prefeita de Saquarema e mulher de Antonio;
Fabio André Dias Azevedo, ex-superintendente da CBV e atual diretor-geral da FIVB.
O que dizem os citados
Ary Graça
“O Dr. Ary Graça recebeu com surpresa a busca em seu apartamento e a notícia veiculada hoje cedo pela mídia. Ele está em Lausanne, seu local de residência por motivo de trabalho, e acionou seu advogado para tomar ações imediatas no sentido de contestar as alegações, as mesmas feitas no passado e que agora voltam à tona. Ary Graça prestou todos os esclarecimentos à época em que as alegações foram levantadas e, após seu pronunciamento, não houve qualquer ação resultante por parte da justiça brasileira. Como anteriormente, ele se coloca à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos.”
CBV
“A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) confirma que recebeu nesta quinta-feira (20.05) pela manhã a Polícia Civil em suas sedes na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro (RJ), e em Saquarema (RJ), por conta de uma investigação iniciada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro em 2013 sobre ex-dirigentes da entidade.
Funcionários da confederação prestaram todo o auxílio às autoridades policiais que buscavam documentos relativos a um suposto esquema de fraude tributária que teria contado com o auxílio do ex-presidente da CBV, Ary Graça Filho.
De acordo com as investigações, a CBV teria sido vítima dos seus então dirigentes, que teriam criado contratos fictícios para desviar dinheiro da instituição.
A atual gestão da confederação cooperará integralmente com a investigação e, se forem comprovados prejuízos financeiros à CBV, tomará todas as medidas necessárias para que estes valores sejam integralmente ressarcidos à comunidade do voleibol.”

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