Objetos furam pneus das bicicletas e podem causar acidentes graves. Outras armadilhas, como tábuas com pregos e cipós amarrados entre as árvores, são ‘plantadas’ para afastar os atletas. Ciclistas reclamam que estão jogando tachinhas na Estrada Dona Castorina
Mais do que pedras ou buracos no asfalto, os perigos para os ciclistas que costumam pedalar do Jardim Botânico, na Zona Sul, ao Alto da Boa Vista, na Zona Norte, pela Estrada Dona Castorina, surgem em forma de tachinhas. E outros obstáculos, como tábuas com pregos e cipós amarrados entre árvores na altura do pescoço de ciclistas, estão aparecendo no caminho.
Desde meados de abril, os pequenos pregos de cabeça arredondadas usados para fixar recados em quadros de aviso estão sendo jogados na pista, furando os pneus das bicicletas e causando muitos tombos.
Vista Chinesa é um dos percursos favoritos dos praticantes de ciclismo de velocidade, no Rio
Alexandre Macieira/Riotur
Para o dentista Vinícius Ferreira, de 43 anos, praticante de ciclismo de velocidade (speed) e integrante da Comissão de Segurança do Ciclismo na Cidade do Rio (CSCRJ), a intolerância é o motivo para “plantar” armadilhas para os ciclistas.
“Recentemente, numa trilha do Parque da Tijuca, amarraram um cipó entre duas árvores e um ciclista quase foi degolado. Já enterraram tábuas com pregos nas trilhas de mountain bike. Isso não é por acaso, é maldade. São armadilhas para afastar e ferir os ciclistas. Pura intolerância”, disse Ferreira.
O ciclista Vinícius Ferreira diz que tachinhas são armadilhas que colocam praticantes em risco, na Vista Chinesa
Arquivo Pessoal
Segundo Ferreira, as tachinhas só ainda não causaram um acidente grave por muito pouco. O caminho até a Vista Chinesa é um dos percursos preferidos pelos praticantes de speed, que além de ladeira e curvas, têm menos trânsito, no meio da bela paisagem do Parque Nacional da Tijuca.
“Fazem isso por pura maldade. A maioria dos ciclistas teve um pneu furado na subida, quando a gente está muito rápido, está a 10km/h. Por sorte, além do prejuízo material, só sofreram escoriações leves. Mas se o furo de um pneu acontece na descida, quando se chega fácil aos 30km/h, há o risco de fraturas e machucados muito mais graves. Quando um pneu fura nessa velocidade, a perda do controle da bicicleta é total”, disse Ferreira, que não descarta o risco de morte num acidente como esse.
Desde meados de abril ciclistas que pedalam na Estrada Dona Castorina encontram tachinhas como obstáculos na pista
Reprodução/Facebook
As tachinhas costumam estar na pista na altura da Curva da Cachoeira. Ferreira chegou a pensar que elas faziam parte da estratégia de algum assaltante.
“Numa quinta-feira à noite havia um carro preto, parado na contramão no local. Achamos que poderia ser alguém querendo nos assaltar. Subimos a estrada para a Vista Chinesa com medo. Na descida, o carro não estava mais lá, mas cinco bicicletas tiveram os pneus furados por tachinhas”, lembrou o ciclista.
O praticante de speed disse que não há como saber quem está sabotando os treinos na região da Vista Chinesa. E que embora o ato de jogar tachinhas na pista não seja crime, a comissão registrou o caso na 15ª DP (Gávea).
“A gente está tentando se proteger dessa violência. Alguns moradores já disseram que não gostam de ciclistas na região porque fazem barulho. A gente treina entre 4h e 6h e das 19h às 21h, quando quase não há trânsito. E o único barulho que tem é o da conversa no grupo, que no silêncio da madrugada fica mais audível. Mas nem de longe chega perto do barulho de um ônibus passando”.
“E com a pandemia, as pessoas pedalam em dupla ou trio. São raros os grupos. Se os ciclistas estão incomodando os moradores, vamos ser tolerantes e chegar a um acordo”, afirmou Ferreira que teme um desfecho trágico com tachinhas no meio da pista.
Tachinhas não são novidade
Tachinhas na pista na Vista Chinesa prejudicaram o desempenho do atleta Antônio Garnero, em evento-teste para Olimpíadas, em 2015
Reprodução/GE
Não é a primeira vez que tachinhas são usadas para prejudicar ciclistas. Em agosto de 2015, num evento-teste para a realização da Olimpíada de 2016 no Rio, atletas tiveram o rendimento prejudicado por tachinhas atiradas na pista, na Vista Chinesa. Um dos prejudicados foi o ciclista da seleção brasileira Antônio Garnero. Ele teve o pneu furado duas vezes ao passar pela Vista Chinesa.
Na ocasião, internautas relataram nas redes sociais que uma senhora teria sido vista atirando os objetos, alegando que não concordava com os transtornos dos eventos-teste na região e se mostrando contra a realização dos Jogos Olímpicos no Rio.
No evento, além de Garnero, outros seis ciclistas tiveram o pneu furado pelas tachinhas.