Leilão do imóvel de 408 metros quadrados na Av. Atlântica, no Leme, estava marcado para dia 25. Ao G1, dono disse que fechamento é temporário e foi forçado pela pandemia. Imóvel do restaurante La Fiorentina, com suas pilastras e paredes repletas de autógrafos, vai a leilão
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A Prefeitura do Rio decretou nesta quarta-feira (19) a inclusão do restaurante La Fiorentina, no Leme, Zona Sul, no Cadastro dos Negócios Tradicionais e Notáveis.
Tradicional reduto da boemia cultural do Rio – que tem todos os pratos com nomes de artistas e celebridades – fechou as portas em abril. O fechamento, segundo os donos, é temporário, mas o imóvel onde funciona a casa tem leilão marcado para a próxima terça-feira (25).
O G1 entrou em contato com a prefeitura para saber se o decreto afeta o leilão, mas ainda não obteve resposta.
O decreto, assinado pelo prefeito Eduardo Paes, cita como motivos para a inclusão:
que o restaurante foi fundado em 1957 e encontra-se em funcionamento no mesmo local desde então, tornando-se referência cultural do Leme e Copacabana;
que os adventos decorrentes da pandemia de Covid levaram a este estabelecimento, assim como a muitos outros, interromperem suas atividades temporariamente;
que o La Fiorentina é, notoriamente, um negócio tradicional e parte integrante do referencial cultural do Rio;
que nestes locais são preservados diferentes modos de fazer, habitar e viver o cotidiano da cidade;
e a necessidade de busca de mecanismos de incentivos para a permanência desses negócios tradicionais da cidade.
Dono promete continuidade
Ao G1, antes da publicação do decreto, o dono da casa, Omar “Catito” Peres, disse que o La Fiorentina não vai acabar e que está deixando “a massa descansar” para o negócio não desandar de vez. Ou seja, teve de fechar temporariamente porque estava amargando prejuízo de mais de R$ 1 milhão com a pandemia.
“Em 2020 ficamos cinco meses fechados. Reabrimos no final do ano, mas com a pandemia, os restaurantes ficaram vazios, ninguém está aguentando tanto prejuízo. E não sou eu só não, mais mil estabelecimentos do setor já fecharam no Rio. Fechamos temporariamente em abril e vamos reabrir assim que a situação melhorar”, afirmou Catito.
Ele disse que tentou trabalhar com delivery, mas o custo de manter o restaurante funcionando ficou salgado além da conta. Catito, então, decidiu encerrar o serviço. Demitiu os 25 funcionários – dez deles com mas de 20 anos de casa – pagou o salário de todos eles e agora diz se esforça para quitar as indenizações.
“O La Fiorentina não acabou. O prédio vai a leilão por causa de uma dívida surreal com o Banco Cédula, que está sendo discutida na Justiça. A dívida é de R$ 1,5 milhão, mas o banco está cobrando R$ 9 milhões, a título de atraso, multa e juros. Mas mesmo que o prédio passe para as mãos de outro dono, o restaurante vai continuar. Por contrato, que também está sub judice, o restaurante funciona até 2025. O novo dono não vai poder acabar com o La Fiorentina”, disse o proprietário.
História
Aberto em 1957, o La Fiorentina, conhecido por ficar aberto até o último cliente, costumava reunir artistas e celebridades, que iam jantar e relaxar após as apresentações nos teatros e casas de show. Não por acaso, paredes e pilastras do salão eram decoradas com autógrafos e fotos de atores, músicos, jornalistas, escritores, artistas plásticos. Sem falar no cardápio, onde as estrelas dão nome aos pratos.
“O La Fiorentina chegou a patrocinar mais de 500 peças de teatro. O restaurante significa muito para a cidade. Ele tem uma ligação profunda com o jeito, o estilo e a alma do carioca”, disse Catito, que para apimentar ainda mais a situação, criou na internet um abaixo-assinado que será enviado à Prefeitura do Rio, pedindo o tombamento do restaurante. Até o meio-dia desta terça-feira (18), o documento virtual contava com mais de 600 assinaturas.
Mas apesar de todo esse tempero, a receita não foi suficiente para saldar a dívida do empreendimento com o banco. E por decisão judicial, a loja de 408 metros quadrados vai a leilão, na próxima terça-feira. Aliás, pela segunda vez.
De acordo com o site do leiloeiro Leonardo Schulmann, num primeiro leilão extrajudicial ocorrido no dia 10 de maio, com lance inicial de R$ 9,3 milhões, não houve interessados. Agora, o próximo leilão online, marcado para às 11h, o lance inicial está mais baixo: R$ 9,2 milhões.
Procurado, o Banco Cédula não se pronunciou sobre o assunto.