Esse aparelhinho mágico evoluiu. Conforme aprendi com meu tecnológico “pai” Google, Graham Bell, nascido na bela cidade de Edimburgo, carregou em seus ombros sua invenção mais preciosa durante muito tempo. Ele foi herdeiro de pesquisas sobre fonologia e audição empreendidas pelo pai, o irmão e o avô. Alexander fundou sua Bell Telephone Company, já naturalizado norte-americano (estadunidense?) em 1875. Mas, muitas décadas depois, descobriu-se que, na década de 1870, Antonio Meucci, um italiano fiorentino e imigrante que morava em Staten Island, Nova Iorque, compartilhara com Bell a invenção de um protótipo do que, até pouco tempo, chamávamos de telefone.
Da música “Pelo telefone…” de 1917 até “Pela Internet” do Gil, algumas décadas de adaptação se passaram. Me lembro que um século depois de sua invenção, em meados dos anos 70, não havia telefone na região serrana do Rio de Janeiro. Fazia-se fila para esperar por uma linha nas centrais de telefonia local ou nos poucos orelhões (telefones públicos) disponíveis. Em 1986 quando viajávamos, ainda era necessário completar a ligação através de uma telefonista! Em 94, quando morei fora do Brasil, marcava um dia da semana pra ligar pra minha casa. A família e os amigos se reuniam pra gente poder se falar. Sete anos depois, a partir de 2001, eu passei por situações parecidas toda vez que viajava para um lugar mais remoto do Brasil. Já havia celular, mas não havia rede de transmissão das mágicas ondinhas eletromagnéticas que estão se transformando em luz.
O tempo rompeu de vez a barreira do espaço. A transformação do telefone fixo para o celular até o smartphone se deu num estalo de dedos. As mudanças futuras que nos darão acesso ou nos restringirão da tal tão sonhada liberdade vão acontecer mais rápido do que um piscar de olhos. Pensem quando o tempo for abstraído? Estou pensando em algo completamente ficcional, mas que faz a ponte necessária entre as tecnologias desenvolvidas pós revolução industrial e o futuro: o filme Lucy de Luc Besson. Após atingir 100% de sua capacidade cerebral através de uma droga poderosa, Lucy, personagem interpretado pela incrível Scarlett Johanson, se transforma em qualquer coisa, está em tudo, ouve tudo, manipula o que convencionamos de chamar de tempo.
Eu sempre tive uma admiração abismal pelos adventos tecnológicos e admiro todos que os dominam com destreza. É uma maravilha assistir a shows, concertos, aulas, viajar por lugares inusitados, ler o que quisermos, ver amigos longínquos, trabalhar em casa, se aventurar pelas infinitas receitas, pagar contas online… E, também mandar mensagens por todas as redes sociais possíveis, compartilhar nossas opiniões, idiossincrasias, intimidades, criar grupos de WhatsApp… Alguém ainda manda e-mail? Alguém ainda sobrevive com aquele aparelho morto, o pobre telefone fixo, que nem toca mais?
Eu não cheguei a meio século, e ainda vou esperar um bocado pela vacina quiçá ver alguma mudança no rumo da história desse Rio de Janeiro, que eu amo tanto, e do nosso país. Enquanto isso, que venha o 5G! Nós vamos nos adaptar, tal como as gerações “babyboomers”, “hippes”, “yuppis”, “Xs”, “Ys”. Tal como os cientistas sempre levam em seus ombros a pecha de nos conduzir à frente com um cabedal de conhecimento que o pai “Google” não disponibiliza com antecedência.
Sem nenhuma nostalgia, voltando ao uso do telefone, liguem sempre que puderem para suas pessoas queridas. O COVID certamente nos trouxe muita reflexão, muita leitura e muitas coisas positivas. Mas, enquanto não pudermos nos ver de verdade, liguem! Nada substitui a felicidade de ouvir a voz daqueles que importam na nossa vida! Liliane R. F. N. Marinho