Milhares de vidas, a economia de um modo geral e agora a educação. A destruição causada pela pandemia fez vítimas atípicas: dois tradicionais colégios da zona sul.
As direções das escolas particulares Bennett, situada na rua Marquês de Abrantes, 55, no Flamengo, e Santo Amaro, na rua Dezenove de Fevereiro, 172, em Botafogo, anunciaram recentemente o encerramento de suas atividades já para o final deste ano. Coincidentemente, as duas orientações de ensino são religiosas, sendo o primeiro referente à Igreja Metodista e o segundo à Igreja Católica.
E o que está acontecendo com estas escolas não parece uma exceção ou uma consequência unicamente da pandemia. Há quatro anos, devido à grande crise econômica que o Brasil estava mergulhado, duas outras escolas tradicionais da cidade também fecharam suas portas: o Colégio Santa Rosa de Lima, em Botafogo, e o Colégio Nossa Senhora da Piedade, no bairro de mesmo nome, na zona norte do Rio. Ambas escolas alegaram falta de recursos. Alguns colégios conseguiram resistir àquela crise, mas não a esta nova gerada pelas consequências econômicas da quarentena.
No caso do Instituto Metodista Bennett, há um consolo para quem valoriza a educação. No mesmo local está praticamente acertada a chegada de uma nova escola para usar o belíssimo campus educacional, o Colégio Pensi. Trata-se de uma grande rede que possui gestão e métodos de ensino modernos, mais voltados para a aprovação no Enem do que para uma formação cidadã.
Há algum tempo, praticamente a mesma coisa ocorreu no mesmo espaço, mas no campo do ensino universitário. As Faculdades Bennett fecharam, mas deram lugar ao Centro Universitário Univeritas, também de formato moderno, que está lá até hoje.
Já no caso do Colégio Santo Amaro, o que vai ocorrer com o espaço ainda é uma incógnita. A única certeza é o encerramento das atividades, que, segundo a direção, é irreversível, como foi divulgado no próprio site da escola. A torcida de pais e moradores das proximidades é que não haja um desfecho como no caso do Santa Rosa de Lima, quando o terreno foi vendido para uma construtora de imóveis de luxo e não houve sequência no campo do ensino. E para quem deseja a ocupação do prédio por uma instituição educacional, há uma esperança pelo que ficou implícito em nota divulgada pela responsável, Irmã Úrsula Fuchs OSB: “Estou consentindo a tristeza de todos e a nossa própria, e imploro a Deus que a Educação Humana e Religiosa continue nas instalações do Colégio Santo Amaro, ainda que por outras mãos, e forme pessoas que assumam a sua vida, construindo-a sobre valores éticos e cristãos como tem sido desde sempre.”
Uma opção que sequer foi ventilada seria a adoção de uma parceria público-privada, como já tem sido feito em várias áreas. Na saúde, por exemplo, um renomado hospital particular especializado em transplantes na cidade de Sorocaba, em São Paulo, realiza cirurgias para pacientes do SUS, com a agilidade e competência típicas da rede privada e para tal recebem isenções de impostos e verba do poder público que seria direcionada para a saúde pública, quando geralmente a eficiência deixa muito a desejar. Se na saúde dá certo, porque não fazer algo parecido com a educação? Evitaria que importantes unidades de ensino encerrassem suas atividades, salvaria empregos e possibilitaria que alunos da rede pública tivessem um ensino de alta qualidade.