NOSTALGIA DE SABORES
“Você lembra, lembra, daquele tempo…”, diz a música. Proust resgata memórias e revive a infância ao experimentar um bolinho “madeleine” na obra Em Busca do Tempo Perdido.
Como o escritor francês, todos já nos transportamos no tempo e no espaço ao associar determinados aromas culinários e sabores a lugares, momentos ou mesmo a pessoas queridas.
A gastronomia absorve influências e sofre modismos. Comida de festa já foi estrogonofe precedido por coquetel de camarão e seus molhos à base de creme de leite. Bebida era Cuba Libre, Bloody Mary, uísque com guaraná e vinho alemão em garrafa azul.
Algumas mudanças se justificam pela preocupação com a saúde. Se a alimentação é responsável pelo aumento nas doenças cardiovasculares, a saída é buscar alternativas mais saudáveis. Assim, virou passado a época em que ir a um fast food era um grande programa, destituído de qualquer culpa. Os sundaes gigantes cobertos de chantilly, a banana split, os milkshakes – alguns de nomes exóticos, como vaca preta e vaca branca, conforme a cor do refrigerante misturado ao sorvete – deram lugar ao açaí, aos isotônicos industrializados e à água de coco.
Os anos 90 abriram as portas do mundo para as nossas despensas. A internet fez de nós seres globalizados – uma pesquisa no Google possibilita executar receitas de qualquer país – e os ingredientes estão à venda logo ali: tacos mexicanos, molhos indianos, algas japonesas, chocolates suíços e outros ingredientes antes só acessíveis a quem viajava para o exterior.
Ninguém mais cozinha com banha de porco e gordura de coco em lata, mas fomos apresentados a inúmeros tipos de arroz e ao verdadeiro risoto italiano. O tiramisú, o crème brulée e o onipresente petit gâteau vieram ocupar o lugar dos bombocados e manjares. Até a ratatouille teve seu momento de fama, graças a um filme de animação.
As modas vêm, vão e voltam… mas as lembranças e emoções associadas aos pratos ficam.
Nádia Lamas http://vieirasetrufas.blogspot.com/